Lasers azuis na agricultura, biotecnologia e biociências

Dissecação de plantas

A investigação em matéria biológica requer frequentemente a aquisição de amostras não contaminadas, uma tarefa historicamente dificultada por técnicas de separação mecânica laboriosas e morosas. Para ultrapassar estes desafios e aumentar a precisão da microdissecção de plantas, os cientistas estão a recorrer aos lasers como uma solução de ponta. Em particular, os lasers azuis estão a emergir como uma ferramenta promissora nas ciências das plantas, oferecendo um método sem contacto e de alta precisão para obter amostras de plantas de alta qualidade e não contaminadas.

As técnicas de separação mecânica têm sido, desde há muito, o método de eleição para dissecar várias partes das plantas, mas as suas desvantagens são evidentes. Estes métodos não são apenas trabalhosos, mas também propensos à contaminação, uma vez que as ferramentas de processamento necessitam de esterilização constante para evitar a transferência de partículas entre diferentes partes da amostra. Como solução para estes desafios, os lasers ganharam proeminência em áreas como a cirurgia, a medicina dentária e as ciências vegetais devido às suas capacidades de corte sem contacto.

A dissecação a laser, como método de corte de espécimes sem contacto, resolve as deficiências da dissecação tradicional de plantas. Os recentes avanços na visão por computador melhoraram ainda mais a técnica, tornando-a um processo rápido e de alta precisão que garante a aquisição de amostras de alta qualidade e não contaminadas. Embora a maioria dos dispositivos de dissecação a laser disponíveis no mercado utilize lasers UV, que são excelentes para tecidos animais, sabe-se que a luz UV pode ser prejudicial para as plantas.

É aqui que os lasers azuis, com os seus comprimentos de onda tipicamente entre 400 e 495 nm, apresentam uma alternativa viável para a dissecação de plantas. O pigmento primário da maioria das plantas, a clorofila, absorve predominantemente luz violeta e azul. Especificamente, a clorofila a absorve fortemente em torno do comprimento de onda de 430 nm, e a clorofila b atinge o pico em cerca de 470 nm. Este perfil de absorção torna os lasers azuis altamente eficientes para a dissecação de plantas, garantindo que, quando os parâmetros do laser, como a potência ótica, a velocidade e o tamanho do ponto, são corretamente definidos, o corte é de qualidade excecional.

Chlorophyll absorption peaks relevant to blue lasers

As vantagens da utilização de lasers azuis na dissecação de plantas vão para além da sua compatibilidade espetral com a clorofila. Quando integrados com sistemas de posicionamento XY ou cabeças de varrimento galvanométricas, os lasers azuis permitem processos de dissecação de alta velocidade, de baixo esforço e repetíveis. Isto não só aumenta a precisão da recolha de amostras, como também simplifica o fluxo de trabalho geral da investigação, permitindo aos cientistas aprofundar os meandros da biologia das plantas.

À medida que a tecnologia continua a revolucionar o campo da biologia, a combinação de lasers azuis e técnicas avançadas de dissecação destaca-se como um farol de progresso nas ciências das plantas. Ao oferecer um método sem contacto e de alta precisão que minimiza a contaminação, os lasers azuis estão a revelar-se ferramentas inestimáveis para desvendar os segredos escondidos nos domínios microscópicos dos tecidos vegetais. O futuro da dissecação de plantas é de facto iluminado pelo brilho azul da precisão do laser.

Blue laser cutting example in plant tissues

Tecnologia de cultivo vertical

Nos últimos anos, a necessidade crescente de produção sustentável de alimentos tem vindo a impulsionar o desenvolvimento de novas soluções, como a tecnologia de agricultura vertical (horticultura de interior). Particularmente difundida em regiões que enfrentam desafios como a escassez de água e a luz solar insuficiente para o cultivo ao ar livre, a agricultura de interior está a redefinir a paisagem da agricultura. No entanto, como acontece com qualquer avanço tecnológico, a agricultura de interior não está isenta de desafios, e um obstáculo significativo reside nas elevadas necessidades de energia associadas aos sistemas de iluminação artificial.

Indoor horticulture illuminated with blue laser-based lighting concepts

As explorações agrícolas verticais tradicionais têm-se apoiado historicamente em lâmpadas fluorescentes, mas nos últimos tempos tem-se verificado uma mudança notável para a utilização de díodos emissores de luz (LED) devido à sua maior eficiência. Numerosos estudos exploraram os efeitos da iluminação LED no desenvolvimento das plantas, revelando que uma combinação de LEDs vermelhos e azuis pode substituir eficazmente as lâmpadas de largo espetro sem comprometer o crescimento das plantas. Mas, por muito bons que sejam os LEDs, ainda há uma necessidade premente de reduzir ainda mais o consumo de energia.

O futuro da iluminação das explorações agrícolas de interior pode encontrar a sua solução nos díodos laser semicondutores (LD). Estes díodos possuem uma elevada taxa de conversão eléctrica/ótica, o que os distingue dos LED, especialmente a altas correntes. Ao contrário dos LEDs, que apresentam uma "queda de eficiência" em correntes elevadas, os LDs mantêm quase a mesma eficiência de conversão de energia. Esta caraterística faz com que os LEDs sejam os candidatos ideais para resolver os problemas de eficiência energética associados à horticultura de interior.

Uma vantagem distintiva dos díodos laser semicondutores reside no ângulo estreito do feixe de luz que emitem. Esta propriedade permite a formação precisa de feixes, possibilitando a direção da luz exatamente para onde é necessária. Esta iluminação direcionada minimiza o desperdício de fotões nos espaços entre as plantas, aumentando ainda mais a eficiência global dos sistemas de iluminação baseados em laser em explorações agrícolas de interior.

A elevada absorção de luz azul pela clorofila nas plantas torna os lasers azuis essenciais para otimizar a fotossíntese. A investigação indica que a utilização estratégica de lasers azuis em diferentes fases de crescimento das plantas pode ter um impacto positivo na sua saúde, conduzindo a plantas mais altas com folhas mais largas e a uma maior produção de flores. Estes avanços resultam em colheitas abundantes e mais saudáveis, marcando um passo significativo na evolução das tecnologias de agricultura de interior.

No mundo da agricultura de interior, a integração de lasers azuis e díodos semicondutores representa um avanço notável no sentido de práticas de cultivo eficientes em termos energéticos e direcionadas com precisão. À medida que damos prioridade à sustentabilidade, a eficácia dos díodos laser - especialmente em conjunto com os lasers azuis - é uma promessa significativa para otimizar as operações de cultivo em espaços interiores. Para além de abordar os desafios energéticos, esta simbiose conduz-nos a um futuro em que as práticas agrícolas não só são mais conscientes dos recursos, como também são comprovadamente mais produtivas.

Improved crop yields under blue-laser-based lighting

Controlo de pragas na agricultura

Um dos tópicos mais frustrantes na agricultura é o controlo eficiente e seguro de insectos, com os actuais métodos mecânicos e químicos a revelarem-se frequentemente invasivos e não direcionados. A consequência destes métodos é a erradicação não intencional de insectos, incluindo os que são benéficos para as plantas através de actividades como a polinização. E se houvesse uma forma de atacar diretamente as pragas sem prejudicar as plantas, ou mesmo sem as ajudar potencialmente? A resposta pode estar em lançar luz sobre a situação - literalmente.

Concept of using light for targeted pest control

Há muito que a luz é reconhecida pela sua influência no comportamento dos insectos, por exemplo, através da utilização de lâmpadas UV que atraem e prendem os insectos. No entanto, e se a própria luz pudesse ser utilizada para eliminar insectos nocivos? Nos últimos anos, uma equipa de cientistas do Japão estudou a toxicidade da luz visível para os insectos [1]. Embora esta investigação ainda se encontre numa fase inicial, os dados atualmente disponíveis sugerem que a luz azul apresenta efeitos letais em insectos pragas comuns, tais como mosquitos, escaravelhos da farinha e moscas da fruta.

A eficácia da luz azul na mortalidade de insectos está intrinsecamente ligada ao comprimento de onda, um fator influenciado pela fase de desenvolvimento do inseto e pela espécie [2]. Os díodos laser azuis têm uma vantagem distinta a este respeito, uma vez que os seus comprimentos de onda se alinham com a gama letal para estas pragas comuns. Ao empregar um processo meticuloso de seleção do comprimento de onda, torna-se possível otimizar o impacto letal. Além disso, a beleza da luz azul reside na sua elevada taxa de absorção pela maioria das plantas, aumentando a possibilidade de eliminar simultaneamente as pragas e promover o crescimento das plantas.

Blue laser concept for precise insect eradication in agriculture

Esta abordagem orientada utilizando lasers azuis tem o potencial de revolucionar o controlo de pragas na agricultura, minimizando o impacto ambiental. Ao visar especificamente os insectos nocivos, poupando os benéficos, este método oferece uma alternativa precisa e ecológica aos pesticidas tradicionais. Os lasers azuis, com a sua natureza não química e direcionada, contribuem para uma solução sustentável para a agricultura, horticultura e indústrias de controlo de pragas. Esta inovação alinha-se perfeitamente com a ênfase crescente em práticas ecologicamente conscientes nos sistemas agrícolas modernos, abrindo caminho para uma coexistência mais harmoniosa entre as culturas e os insectos que as rodeiam.

[1] DOI: 10.1038/srep07383

[2] DOI: 10.1371/journal.pone.0199266

Vantagens do laser de díodo azul:

  • Comprimento de onda altamente absorvido pelas plantas - não há necessidade de potências ópticas extremamente elevadas
  • Método sem contacto, sem danos físicos
  • Amigo do ambiente
  • Tamanho compacto e baixo peso
  • Económico, requer uma manutenção mínima
Especificações dos sistemas laser galvânicos azuis para aplicações em biociências
ModeloGLE-S-40-BGLE-S-80-BGLE-S-160-B
Comprimento de onda central 450 nm
Potência ótica mínima 40 W 80 W 160 W
Distância de trabalho 180 mm ou 350 mm ou 650 mm
Área de trabalho 100 × 100 mm ou 200 × 200 mm ou 300 × 300 mm
Tamanho mínimo do 2500 µm
Velocidade de até 2000 mm/s
Eficiência electro-ótica do laser 27% 24% 30%
Consumo máximo de energia 200 W 300 W 600 W

* Valores fornecidos para uma distância de trabalho de 350 mm. † Para ângulos de ±10°.